Muito de nós já viu ou teve contato com pessoas portadoras da síndrome TEA (transtorno do espectro autista), também conhecido como autistas. Ao conviver com essas pessoas começamos a observar que essa síndrome possui características específicas, que varia de pessoa para pessoa, fato pelo qual muitas vezes é dito que o Autista tem um mundinho só seu. Ele apresenta características como comportamentos repetitivos, áreas restritas de interesse, déficits na comunicação, na interação social e nos relacionamentos e em alguns casos pode haver até comprometimento intelectual.
Você sabia que quanto mais cedo for diagnosticada a síndrome do autismo melhores são os resultados alcançados com os portadores da TEA. Um dos métodos de intervenção que vem se destacando no mercado é o Modelo Denver.
Buscando conhecer um pouco mais sobre esse método que tem revolucionado os tipos de tratamentos do autismo conversamos com a Fonoaudióloga Panttila Tonani a Psicóloga Juliana Vettoraci que foram umas das primeiras no estado do Espirito Santo a trabalhar com o Modelo Denver.
Em nosso bate papo conversamos sobre a profissão de ambas, sobre as formas diferenciadas de trabalhar com seus pacientes entre outros assuntos importantes. Acompanhe Nossa entrevista afinal informação nunca é demais.
ELVIS DAVID - FALE UM POUCO SOBRE VOCÊ E SUA PROFISSÃO?
PANTTILA TONANI: Meu nome é Panttila Tonani, tenho 33 anos. No ano de 2018 completo 11 anos que sou formada na área da Fonoaudiologia pela Universidade de Vila Velha (UVV). Sou Especialista em Saúde Pública e finalizo neste ano uma outra especialização agora em Fonoaudiologia Neurofuncional.
Durante os anos de formação atuei em várias municipalidades do sul do Espirito Santo atendendo pelo SUS. Atualmente fixei meu Consultório em Piúma e atendo domiciliar em Itapemirim e Marataízes. Em minha área de atuação trabalho como os diversos aspectos da comunicação humana. Tudo que afeta o transmitir e o compreender da Comunicação (exames audiológicos para identificação de Perda Auditiva, ausência de fala em qualquer idade, deficiências, transtornos,
aprendizagem e dificuldade escolar, processamento da informação), além de atuar também em casos como alterações de mastigação, respiração e deglutição.
JULIANA VETTORACI: Meu nome é Juliana Vettoraci. Há 10 anos me formei no curso de Psicologia e há 7 anos possuo experiência com crianças com autismo, deficiência e dificuldades de aprendizagem. Por 5 anos atuei no Centro de Referência em Educação Especial no município de Anchieta e hoje atendo em consultório particular em Anchieta e Piúma, além de atendimento domiciliar em Marataízes e Itapemirim. Atuo com atendimento individual e em grupo de crianças, avaliação neuropsicológica e reabilitação dos transtornos do desenvolvimento – TDAH, Dislexia, Autismo, Deficiência Intelectual. Busco sempre aprimoramento e capacitação principalmente em avaliação e intervenção precoce por acreditar que, quanto antes se iniciar as terapias melhor o desenvolvimento e prognóstico da criança. Um dos objetivos da minha profissão é perceber em que fase do desenvolvimento a criança se encontra e como fazer para desenvolver as habilidades e as questões a serem trabalhadas. A avaliação infantil tem um importante caráter preventivo, uma vez que possibilita a identificação precoce de condições ou transtornos que podem trazer consequências ao desenvolvimento da criança ao longo da vida.
ELVIS DAVID - COMO SURGIU SEU INTERESSE POR ESSA PROFISSÃO?
PANTTILA TONANI: Tinha o desejo de fazer algum curso na área da saúde. Busquei informações das opções disponíveis e me identifiquei com a fonoaudiologia. Não poderia ter escolhido outra profissão. Amo que faço!
JULIANA VETTORACI: Durante o ensino médio pesquisei muito sobre as profissões que tinha interesse de exercer e minhas pesquisas foram me aproximando da Psicologia. Não foi uma escolha fácil, mas estou certa de que fiz a melhor escolha para a minha vida. A psicologia é parte do que eu sou hoje.
ELVIS DAVID - COMO É PARA VOCÊ TRABALHAR DE FORMA DIFERENCIADA COM PACIENTES NO TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA?
PANTTILA TONANI: Ao longo desse tempo como Fonoaudióloga, fui observando que cada paciente Autista é singular, único, que além do transtorno que os envolvem existe uma pessoa com desejos, angustias, competências e habilidades incríveis e que só precisa ser acreditado e trabalhado da forma mais adequada.
JULIANA VETTORACI: Procuro trabalhar sempre de forma diferenciada e individualizada com todos os meus pacientes, pois acredito que cada criança tem seu modo de estar no mundo e cada um responde de um jeito as intervenções. Intervenções fechadas, rígidas e não individualizadas não dão chance a criança de desenvolver seu pleno potencial, pois não a enxergam como ativa no seu processo de aprendizagem. Se eu não considerar cada paciente e cada família individualmente, se eu fizer da mesma forma para todos, os prejuízos serão imensos, eu posso estar negando a essas pessoas uma vida independente e autônoma.
ELVIS DAVID - COMO TEM SIDO SUA BUSCA POR ATUALIZAÇÕES NA SUA ÁREA DE ATUAÇÃO?
PANTTILA TONANI: Procuro me apropriar através de estudos e formações que tenham comprovação científica. Não dá para trabalhar no “achismo” quando se trata da saúde e do futuro de pessoas. Tenho participado de cursos em outros Estados, além da Especialização em Fonoaudiologia Neurofuncional que me permite conhecer o funcionamento cerebral e habilidades linguísticas, cognitivas e comportamentais de cada alteração, inclusive do autista. Recentemente estive no Canadá participando dos Workshops introdutório e avançado do Modelo Denver de Intervenção precoce que me permite atuar baseado no Modelo Denver.
JULIANA VETTORACI: Estou sempre buscando aperfeiçoar minha prática através de cursos no Brasil e no exterior, além de leitura de artigos e pesquisas publicados recentemente. Tenho especialização em Neuropsicologia e Reabilitação Cognitiva e, em 2013 fui aos Estados Unidos fazer o curso The Son-Rise Program Start-up, no Autism Treatment Center of America para atendimento de crianças que estão no Espectro Autista. E este ano fui ao Canadá fazer os Workshops Introdutório e Avançado do Modelo Denver de Intervenção Precoce, que é considerado Padrão Ouro no atendimento de crianças com Transtorno do Espectro Autista nas idades de 12 a 48 meses. Meu intuito é buscar sempre o que há de melhor para conseguir o desenvolvimento pleno dos meus pacientes e poder proporcionar qualidade de vida e autonomia.
ELVIS DAVID - FALANDO AINDA EM NOVIDADES E ATUALIZAÇÕES, NOS FALE UM POUCO SOBRE O MODELO DENVER DE INTERVENÇÃO PRECOCE?
PANTTILA TONANI: O modelo Denver de intervenção precoce em crianças com autismo é um Modelo que ensina a intervir de forma abrangente em recém-nascidos e crianças em idade pré-escolar.
JULIANA VETTORACI: O Modelo Denver de Intervenção Precoce, como o nome mesmo já diz é para intervenção em crianças de 1 a 4/5 anos de idade com Transtorno do Espectro Autista, com objetivo de promover a linguagem, aprendizagem e socialização. Está fundamentado no conhecimento atual sobre aprendizagem de bebês e crianças, e nos efeitos que o autismo tem nos primeiros anos do desenvolvimento. Seu foco é reduzir a severidade dos sintomas do autismo e permitir desenvolvimento eficiente nos domínios cognitivo, social, emocional e linguístico. Para isso, tem o brincar como forma de intervenção, considerando as atividades conjuntas como o primeiro veículo para a aprendizagem; as interações são centradas na criança, nas suas escolhas, atividades e materiais preferidos, pois quanto maior a motivação maior a aprendizagem. E a intervenção deve ser realizada no ambiente natural e da forma mais natural possível. No início da intervenção a criança é avaliada pelo profissional através do Checklist Curriculum do ESDM, que avalia as competências atuais dessa criança, a partir daí os objetivos de aprendizagem são definidos e projetados para serem adquiridos em um período de 12 semanas que é quando se faz uma reavaliação e definem-se novos objetivos. Vale ressaltar, que o envolvimento da família é parte fundamental nesse processo, pois com orientação e consciência dos objetivos que estão sendo trabalhados eles conseguem potencializar a qualidade dos cuidados diários com a criança tornando cada momento um momento de intervenção para além dos consultórios.
ELVIS DAVID - COMO FOI PARA VOCÊ SER UMA DAS PRIMEIRAS DO ESPÍRITO SANTO A BUSCAR UMA ESPECIALIDADE SOBRE A INTERVENÇÃO PRECOCE EM AUTISMO ATRAVÉS DO MODELO DENVER?
PANTTILA TONANI E JULIANA VETTORACI: Não intencional, acabamos sendo as primeiras. Ficamos felizes e mais confiante com o trabalho que já desenvolvemos com esse público. Nos faz ter um olhar diferente para as crianças com autismo e ter a certeza que é possível mudar o futuro de uma criança com esse Transtorno, principalmente se o diagnóstico acontece precocemente
ELVIS DAVID - PORQUE ESSE TRATAMENTO DEVE COMEÇAR TÃO CEDO?
PANTTILA TONANI: Crianças não têm tempo a perder. Cada dia sem intervenção adequada é menos um dia de oportunidades de aprendizagem e interação social prazerosa. É uma conta que após os 6 anos não dá mais para fechar. Um atraso leva a outro, ficando muitos buracos para trás que somente com muito esforço familiar e muita intervenção será possível suprir as necessidades das crianças maiores. Quando se identifica e se intervém precocemente (do recém-nascido aos 4 anos) com terapia de qualidade e de alta intensidade (no mínimo 10hs por semana), é possível diminuir esse atraso e fechar todos os buracos no desenvolvimento atípico.
JULIANA VETTORACI: Atualmente, acompanhamos um aumento de diagnósticos de transtornos da infância e, nós profissionais da saúde temos que estar preparados para identificar os sinais de risco para o desenvolvimento e intervir junto à família desde bem cedo. Essa intervenção realizada precocemente possibilita a minimização dos prejuízos, pois na primeira infância o cérebro da criança é como uma “esponjinha”. É a fase mais intensa da plasticidade cerebral, ou seja, estímulos adequados influem não apenas no funcionamento, mas na própria formação do cérebro. Por isso, hoje em dia se fala tanto em intervenção precoce.
ELVIS DAVID - QUAIS SÃO SUAS EXPECTATIVAS PARA A APLICAÇÃO DO MODELO DENVER NO SUL DO ESPIRITO SANTO?
PANTTILA TONANI E JULIANA VETTORACI: Em primeiro lugar é importante ressaltar que ainda estamos em período de Certificação Internacional, fizemos a primeira parte que são os Workshops e agora teremos um tempo de preparação para começarmos as supervisões para concluirmos a certificação pelo MIND Institute. Por enquanto, estamos desenvolvendo nosso trabalho com base no Modelo Denver.
Acreditamos que o momento inicial é de se criar um movimento de alerta ao desenvolvimento atípico. Permitir que pais, professores, cuidadores de crianças e profissionais da saúde tenham um olhar diferenciado para o desenvolvimento infantil e, ao sinal de atrasos e indicativos de risco leva-los a procurar profissionais capacitados para avaliar o quanto antes. Quebrar esse paradigma de que pode esperar mais tempo para a criança se desenvolver, “volta quando ela tiver 3 anos”; “na minha família todas as crianças falam tarde”, “é tímida igual ao pai” – cada criança tem sim seu ritmo, no entanto, temos marcos do desenvolvimento que devem ser levados em consideração e, ao sinal de qualquer atraso significativo é muito importante procurar um profissional habilitado para avaliação e intervenção.
Alguns instrumentos de avaliação vêm sendo desenvolvidos nos últimos anos, pois o Brasil ainda é carente no que se refere à avaliação de crianças de 0 a 5 /6 anos.
É uma avaliação que indica os pontos fortes, fracos e as competências do bebê ou da criança para o planejamento adequado de uma intervenção. É importante deixar claro que, não precisa ter um diagnóstico fechado para que se iniciem as intervenções. Precisamos compreender que a importância da detecção precoce de problemas de desenvolvimento na infância possui um caráter preventivo importante, pois através da identificação precoce dessas condições é possível realizar um tratamento terapêutico com a criança e evitar o surgimento de consequências para o desenvolvimento ao longo da vida.
ELVIS DAVID: QUAIS SÃO OS SINAIS DE ALERTA DE RISCO PARA O DESENVOLVIMENTO A SINDROME QUE OS PAIS E RESPONSÁVEIS DEVEM OBSERVAR?
PANTTILA TONANI E JULIANA VETTORACI: Achamos importante chamar atenção para alguns sinais de alerta de risco para o desenvolvimento, sendo eles:
• Não responde quando chamado pelo nome ou quando ouve sons;
• Atraso ou ausência da fala;
• Não aponta ou pede o que quer;
• Não segue o apontar ou não demonstra interesse por coisas que o outro mostra;
• Prejuízo no brincar funcional ou no faz de conta;
• Dificuldade para olhar no olho do outro;
• Interesse reduzido por outras crianças.